sábado, 24 de novembro de 2012

Clube do Enquadramento - Presságio (02)

Fechando aqui a postagem sobre o filme PRESSÁGIO...

Todos os comentários citaram uma insatisfação com o desfecho da trama, acho que envolver aliens ficou um pouco fora de contexto mesmo. Nem entendi muito bem o que tem a ver aliens com os números que a menina escreveu, e aquelas pedrinhas pretas...

Mas achei bem legal a ideia da cápsula do futuro e assumo que o filme começa com um suspense otimo, até tomei um susto quando a menina chega por trás do Nicolas Cage quando ele está no computador. Os efeitos do avião e do metrô também são ótimos.

Foto: aqui.

Encontrei uma análise do filme voltada para o lado religioso, bem interessante. Veja aqui.

Também encontrei um artigo que faz uma análise interessante do filme, chamado Quem deve viver, quem precisa morrer: a importância semiótica das narrativas dos filmes de ficção científica na manutenção da ordem sociocultural dos gêneros e das sexualidades (por Edilson Brasil de Souza Júnior).

"(...) filme Presságio, de Proyas (2009) nos revela de forma estarrecedora, colocando seus personagens como vítimas de um cataclismo solar dilacerador para toda a humanidade. Mas o mesmo filme que nos revela essa catástrofe fala-nos, em contraposição, de renascimento, de repovoamento de um planeta distante parecido com o nosso, para o qual grupos de meninos e meninas são conduzidos por alienígenas (que possuem a forma física de anjos) e cuja missão é (isso fica claro na última imagem do filme)  reconstruir um novo Éden, para qual a reprodução é imprescindível e a presença dos adultos com todos os seus erros e desejos é proibida.

Para esse novo paraíso, as crianças ainda puras de ideias podem ser induzidas a uma nova moral cuja procriação é fato consumado para uma orientação correta do comportamento. Curioso é que no filme não se leve em consideração a possibilidade de essas mesmas crianças serem talvez homossexuais ou estéreis, o que, no primeiro caso, não implica a impossibilidade de reprodução, apesar de restringir sua dinâmica; já no segundo, a relação sexual sem fins procriativos pode ser transformada em ação desnecessária e imoral em virtude da imediata necessidade de reproduzir para habitar a nova terra. Dessa forma, a fé alienígena na heterossexualidade, com base no que foi indicado, “supõe o sexo como um ‘dado’ anterior à cultura e lhe atribui um caráter imutável, a-histórico e binário” (LOURO, 2008, p. 15).

Assim, mediante a imposição implícita de uma moral para os corpos (biopoder) essa fé restringe a possibilidade de o sujeito (desde sempre em dívida com a continuidade da espécie) viver sua sexualidade de forma mais inconstante e fluida. Em contrapartida, talvez por uma consciência dessa possibilidade, é que os mesmos alíens-anjos (e é bom mesmo deixar frisada essa palavra) não apostam apenas num casal infantil, mas em milhares, pois assim fica fácil descartar o excedente ou (por que não dizer?) o corpo inútil.

Além das questões que envolvem o corpo, o gênero e a sexualidade, como se pode notar, em um único filme fala-se ainda de fim e de início, aspectos presentes de forma quase instintiva no imaginário coletivo, o qual é geralmente formatado pelos discursos da tradição evocados pelas lendas, fábulas e mitologias, as quais são vivenciadas ainda hoje como uma fantasia a partir da qual a realidade pode ser entendida e aceita de forma mais tranqüila. Não por acaso essas narrativas fílmicas, por muitas vezes, soam-nos como releituras de histórias bíblicas (ou outras histórias tradicionais) que relatam um renascimento após o caos, o qual somente é possível por meio da reprodução, movida pela esperança na heterossexualidade ou na adesão ao comportamento heterossexual de todos os personagens envolvidos na narrativa." (páginas 10-11)
Fonte: aqui.

SHOW!

Um comentário:

Roberto Queiroz disse...

Esse filme tem o mesmo problema do filme "O dia em que a terra parou" (com o Keanu Reeves): eles misturam alhos com bugalhos. No presságio, misturam códigos com aliens e no Dia que a terra parou querem colocar um discurso ambiental na trama que em nenhum momento cabe. Não é à toa que Nicolas Cage vem sendo criticado nos últimos anos por suas escolhas de carreira. E o mais impressionante de tudo é que o filme foi dirigido pelo mesmo cara que fez O Corvo (com Brandon Lee) e Eu, Robô (com Will Smith). Aqui ele se perdeu completamente.

Caro Fred,
revi essa semana um filme que me marcou muito e achei a cara desse clube aqui: Alta Fidelidade, de Stephen Frears. Procure! É para cinéfilos apaixonados pelo bom cinema.