segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Clube do Enquadramento (6)

Então, eu fiquei um tempo sem postar aqui pois estava acompanhando o estado de saúde da minha amiga Jéssica Aleixo (como eu disse aqui). Ela é fã do filme e me enchia o saco pra ver, mas agora finalmente pude assistir. Também ela está em casa já, recuperada de um acidente de carro. SHOW!!!

Vamos ao filme, indicado pela Paloma Mesquita...
PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN
No total, cinco pessoas comentaram sobre o filme. A Paloma analisou a direção de arte e se conteve na principal questão do filme "Por que ela não tratou o Kevin?". O Tiago Taboza citou detalhes interessantes de que o Kevin era mais frio com a mãe mas quando o pai chegava ele disfarçava, além desse amor incondicional de mãe (que me lembra "O Bebê de Rosemary"). A Jéssica Aleixo já analisou por outro ângulo, de como o pai dá a flecha pro Kevin sem saber que logo iria ser morto por ela.

O Roberto Queiroz cita o filme "Elefante" (NOTARAM QUE NUMA CENA A MÃE ENSINA O KEVIN A FALAR A PALAVRA ELEFANTE? SERÁ QUE TEM ALGUMA LIGAÇÃO AÍ IMPLÍCITA?) e a péssima performance da mãe em educar e que isso talvez tenha sido o responsável pelo que ele fez, como um "ajuste de contas pela sua inadimplência materna". Além disso, ele compara o livro ao filme e prefere o segundo, além de dizer que o filme faz refletir sobre a falta de segurança do mundo.

E, por fim, mas não menos importante, a Élida afirma que não gostou do filme, apenas ficava com raiva do Kevin. "Me fez pensar se psicopatas já nascem prontos..." Como ela mesma disse, não é um filme para se divertir... Concordo, pode ser um filme pra passar numa aula de direito ou psicologia (veja o vídeo no final da postagem).

Agora, a minha análise do filme:

- Primeiramente, a cor vermelha aparece absurdamente em grande quantidade no filme. Tem vermelho na festa do tomate, no cachorro de pelúcia, em botões, luz da escola, no cortador de grama do vizinho, na tinta da casa, nas latas de molho de tomate no mercado, na bola, na roupa do Kevin no medico, na caneta que a mãe escreve, na cadeira vermelha na festa, nos copos, na jaqueta, na geleia, até no pote de pipoca. Essa obsessão pelo vermelho me lembrou a menina do "A Lista de Schindler" e os objetos vermelhos de "Beleza Americana" (lembram da loira com as pétalas?).

- Depois de tantos casos de violência e massacres em escolas, o que é um absurdo que vem tomando cada vez mais proporções horríveis, que se justifica por vingança de bullying, é interessante ver um filme que aborda isso como uma psicopatia que já vem de nascença com a criança. Achei original, pena que não se aprofunda nisso.

- Outro ponto importantíssimo desse filme é a fragmentação das cenas. Tudo que se apresenta fora de ordem, seja por flashbacks ou lembranças, gera aquela comparação de como as coisas eram e como elas passaram a ser. Lógico que eu não posso deixar de citar "Lost", já que a marca principal da série é a narrativa fragmentada entre presente, passado e futuro. Além disso, gera um certo mistério, faz você ficar analisando cortes de cabelo mudados, se guiando através disso. Além de ser um trabalho de continuidade absurdo. Outro filme que usa isso: "21 Gramas".

- Achei um filme diferente pelo fato de ter poucos diálogos e ser bem sutil, pois você tem que "ler as cenas" pra sacar o que tá acontecendo. É baseado num livro, então ele deve seguir aquela linha de visualização. Sobre o livro, leia aqui.

- Sobre a mãe, fiquei com muita raiva dela. Cara, ela é muito retardada. Não tem personalidade nenhuma, fica só com aquela cara seca e boca sem lábio o filme todo. Juro que não saquei qual é a dela. Nem um DVD do computador ela sabe tirar. Assim fica difícil educar um filho né! Isso também me lembrou outro filme, "O Iluminado", que tem uma mulher muito lerda que não toma nenhuma atitude, só fica desesperada o tempo todo, até um menino no filme é mais inteligente que ela.

- Já o Kevin, só com o olhar já mostra ao que veio. Desde criança, tem um olhar fixo, quase não pisca. Não sorri. Não fala. Apenas quando cresce que fala algumas coisas, mas bem pausadamente. Isso também é um pouco estranho, afinal já dá de cara pra perceber que ele tem um problema.

- Outra ligação com "Lost", além da fragmentação narrativa: a música "Everyday", do cantor Buddy Holly (aqui) que toca na série.

- Agora quanto a questão da psicopatia do Kevin, ele é um desgraçado mesmo. Fiquei puto já desde quando ele respingou água na cara do bebê, depois quando ele matou o hamster fiquei mais ainda (eu tive muitos hamster na infância) e mais adiante quando ele mata os estudantes, o pai e a irmã. Mas não entendi como foi a morte do pai e da irmã, alguém entendeu? A mãe olha e nem tenta socorrer. Tem umas coisas mal explicadas no filme ou eu pisquei em algum momento. E a motivação dele fazer isso tudo, como ele mesmo diz: "Não há nenhum propósito. Esse é o propósito".

- Pra finalizar, achei o filme bom, mas ao mesmo tempo estranho. Em nenhum momento ninguém "fala sobre o Kevin", não gostei do título. Talvez deva fazer mais sentido no livro, não sei. E definitivamente, NÃO É UM FILME SOBRE O KEVIN, é um filme SOBRE UMA MULHER EM DIVERSOS MOMENTOS DA VIDA DELA. Apenas isso.

OBS: quem quiser o livro em PDF, me pede que eu mando.

A psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva foi no Jô Soares e analisou algumas cenas do filme, no vídeo abaixo: Fonte: YOUTUBE

2 comentários:

Roberto Queiroz disse...

Vi um filme na TNT outro dia desses, chama-se Os Estranhos (aí, Fred, é com a Liv Tyler. Procure!) em que um bando de mascarados fica aterrorizando um casal que acaba de chegar de uma festa. Típico filmes de suspense psicológico. Na última cena do filme, a personagem da Liv Tyler pergunta aos assassinos porque eles estão fazendo aquilo e um deles apenas responde: "porque vocês atenderam a porta quando nós tocamos a campainha". Por que pensei nisso? por causa da verdadeira motivação (pelo menos para mim) para os crimes do Kevin: porque simplesmente existem pessoas que se interessam por isso, que se excitam com a violência, porque dão IBOPE a esse tipo de comportamento. No livro, que é epistolar (baseia-se em troca de cartas entre os pais) isso fica meio vago. Já no filme, sente-se esse interesse explosivo pela violência desde o início. Ela está presente na coloração vermelha, como vc bem ressaltou, na própria maneira como a mãe é espancada por aquele mulher que a reconheceu no meio da rua (que nada mais é do que uma consequência da violência criada por Kevin, pois violência gera violência) e principalmente no estilo de vida blasé daquele mãe totalmente despreparada para ter um filho, o que deixa para o futuro criminoso todo o tempo do mundo, sem vigilância, sem criação, um prato cheio para a barbárie. Lembro de ter ficado indignado quando não indicaram a Tilda Swinton (mãe do garoto) ao Oscar para colocarem uma atriz que era simplesmente uma queridinha de estúdio. Coisas de Oscar, que eu tanto critico. No geral, vejo Precisamos falar sobre o Kevin como um elo perdido para entendermos a sociedade. Ou criamos leis de verdade e os pais voltam a ser pais, ou então estaremos fadados a essa eterna condição de homem lobo do próprio homem. É como bem disse o Ratinho certa vez em seu programa (e foi muito criticado por isso): Menor de idade? Nos dias de hoje? Não existe menor de 18 anos, o que existe hoje em dia, com tanto acesso a tecnologia e informação, é maior de 12 anos.

Frederico Formiga disse...

Roberto, já vi Os Estranhos... Não gostei não. Mas todo filme tem suas qualidades.